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Quando a mente sussurra e o corpo grita

  • 17 de jul.
  • 3 min de leitura

Durante muito tempo, aprendemos que só se vai ao médico quando o corpo dói. Quando há febre, quando a garganta arranha, quando algo visível nos impede de continuar. Crescemos com a ideia de que só se procura ajuda quando já não conseguimos ignorar o que sentimos.

Mas, felizmente, os paradigmas estão a mudar. Ainda devagar, é verdade — mas já se nota uma nova consciência a nascer.

Começamos, pouco a pouco, a perceber que a saúde mental também precisa de atenção, de cuidado, de escuta. E que há dores que não se veem… mas que pesam todos os dias.

Há sintomas silenciosos — o cansaço que não passa, a irritabilidade sem razão aparente, o isolamento que se instala devagar, as lágrimas que aparecem sem explicação. Pequenos sinais que a mente nos envia, quase num sussurro, a pedir ajuda. E quando não ouvimos, o corpo fala. Fala alto. Fala com dores de estômago, dores de cabeça, palpitações, insónias.

Porque quando a mente não consegue digerir, o corpo queixa-se.

E na adolescência, tudo isso pode ser ainda mais confuso. Tudo parece maior: as dúvidas, os medos, as emoções que transbordam sem freio, o corpo a mudar, o mundo a exigir. É uma fase intensa. Bonita, sim, mas também exigente. E tantas vezes subestimada.

Quantas vezes ouvimos (ou até dissemos) “isso é só uma fase”, “vais ver que passa”, “estás a exagerar”? Na tentativa de proteger, acabamos por minimizar. Na vontade de ajudar, acabamos por afastar.

Mas ignorar pequenos sinais pode ser o início de algo maior. E não — não estou a falar de doença, nem de diagnósticos, nem de alarmismos. Estou a falar de prevenção. De cuidado consciente. De estarmos atentos antes de a dor se tornar demasiado pesada. Porque sim, há muitas situações que podem ser tratadas — mas se forem prevenidas, tanto melhor.

E é aqui que muitos pais se sentem perdidos.

“É normal o meu filho isolar-se assim?” “É só preguiça ou é algo mais?” “Devo dar espaço ou devo insistir?”

São perguntas legítimas. E difíceis. Porque a adolescência traz, por si só, mudanças no humor, necessidade de privacidade, algum afastamento. Mas há sinais — mais subtis ou mais evidentes — que nos dizem: “algo não está bem”.

Alguns dos sinais de alarme que devemos observar com carinho e atenção:

  • Mudanças bruscas no comportamento ou na personalidade

  • Isolamento social persistente

  • Alterações no sono (dormir demais ou insónia constante)

  • Alterações no apetite ou no peso

  • Irritabilidade constante, explosões de raiva sem motivo claro

  • Falta de interesse por tudo o que antes entusiasmava

  • Comentários recorrentes sobre sentir-se inútil, culpado ou “sem sentido”

  • Sintomas físicos sem explicação médica (dores frequentes, cansaço extremo)

  • Semblante permanentemente triste, olhar vazio, “peso no rosto”

  • Falta de autocuidado: não tomar banho, não lavar os dentes, não mudar de roupa

  • Desorganização excessiva e prolongada do espaço pessoal, como o quarto

  • Recusa em comunicar, mesmo quando há tentativas afetuosas de aproximação

Estar atento não é controlar. É cuidar com presença. É escutar com o coração, mesmo quando o silêncio pesa. É acolher sem julgamento, mesmo quando não compreendemos de imediato.

Procurar apoio emocional não é sinal de fraqueza — é um ato de coragem. É um passo bonito em direção à vida. E quanto mais cedo se aprende a pedir ajuda, mais cedo se ganha força para enfrentar o que quer que venha.

Foi por isso que este projeto de mentoria nasceu — para oferecer um espaço seguro, antes que o peso seja grande demais. Um espaço onde os adolescentes possam respirar, ser ouvidos, compreender-se. E onde os pais também encontrem orientação e clareza neste processo desafiante de acompanhar um filho em construção.

Porque ninguém devia ter de esperar que a dor se torne insuportável para ser levado a sério.

Cuidar da mente é cuidar da vida. E nunca é cedo demais para começar.

Inês Saldanha

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