Adolescência: o caminho estreito entre o crescimento e o risco
- 17 de jul.
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Ser mãe de um adolescente é um exercício constante de escuta, contenção e fé. Acordamos todos os dias com o coração dividido entre a vontade de proteger e a necessidade de permitir que cresçam. Queremos fazer tudo certo, mas a verdade é que nem sempre sabemos por onde começar — especialmente quando o que nos assusta não é o que se vê, mas o que se pressente no olhar, no silêncio, no distanciamento.
Fala-se muito sobre a adolescência como uma fase de descobertas, de identidade, de construção. Mas pouco se fala do lado escuro, do que é difícil, dos riscos reais que habitam esse período tão sensível da vida. E são muitos. Demasiados, às vezes.
Há dores que não estão nos livros. Há perguntas que não têm resposta certa. E há momentos em que, mesmo com todo o amor do mundo, não conseguimos evitar que os nossos filhos passem por dificuldades — mas podemos (e devemos) estar atentos, presentes, disponíveis.
A verdade é que a adolescência é uma fase de vulnerabilidade. Não por fraqueza, mas pela intensidade. Eles estão a formar-se: corpo, mente, emoções, sexualidade, identidade, sentido de pertença. Tudo muda. Tudo pesa. Tudo é novo. E, no meio de tudo isso, surgem caminhos que, se não forem bem orientados, podem tornar-se perigosos.
Nos últimos anos, tenho acompanhado muitos adolescentes e famílias, e posso dizer com alguma dor que os problemas graves não são assim tão raros como gostaríamos de acreditar. A depressão, por exemplo, é uma realidade cada vez mais presente. E, ao contrário do que se pensa, nem sempre se manifesta com tristeza visível — muitas vezes, aparece como irritabilidade constante, apatia, isolamento, insónia ou até dores físicas sem causa aparente. É uma doença real, séria, que precisa de ser compreendida e tratada com respeito e empatia.
Outra realidade que me preocupa profundamente é a crescente banalização da automutilação. Sim, há adolescentes a cortarem-se. E não é para chamar a atenção. É, muitas vezes, porque não sabem lidar com a dor emocional, porque não têm palavras para o que sentem, porque a dor física se torna uma forma de aliviar o que está insuportável por dentro. E o mais assustador é que muitos pais só descobrem quando a situação já se agravou.
Depois, há os transtornos alimentares — e não estamos a falar apenas de raparigas. A obsessão com o corpo, com o controlo, com o "ideal" que as redes sociais impõem, está a afetar rapazes e raparigas. Há quem deixe de comer, quem esconda comida, quem coma em excesso e depois se culpe. A relação com o corpo torna-se muitas vezes um campo de batalha, e nem sempre os sinais são óbvios.
E claro, não posso deixar de falar de algo que, enquanto mãe, nos tira o sono: os pensamentos suicidas. Só de escrever isto o meu coração aperta. Mas é importante dizê-lo, sem dramatismo, mas com verdade. Há jovens a sentirem-se sem saída. A acharem que são um peso. Que não fazem falta. E se não tivermos coragem para olhar para isso de frente, não conseguimos proteger como gostaríamos. Perguntar diretamente não incentiva o suicídio — salva vidas.
Mas os perigos não estão apenas no foro psicológico ou emocional. Há outros desafios, mais "externos", mas igualmente sérios. A pressão dos pares, por exemplo, é brutal. A necessidade de se integrar, de ser aceite, leva muitos adolescentes a fazerem escolhas com as quais, no fundo, não se identificam. E é aqui que entram o consumo de álcool, tabaco e drogas — não como vícios, muitas vezes, mas como forma de pertencer, de não ficar de fora. A iniciação ao álcool e às substâncias está cada vez mais precoce. E não é porque os adolescentes sejam inconscientes — é porque querem fazer parte. Porque têm medo de ficar sozinhos. Porque estão a aprender a ser.
As relações sexuais também surgem mais cedo do que muitos pais imaginam. E, infelizmente, muitas vezes sem uma verdadeira preparação emocional, sem informação clara, sem espaço para falar sobre consentimento, prazer, respeito ou limites. Vivemos numa sociedade hiper exposta, em que os miúdos têm acesso a conteúdos pornográficos antes sequer de compreenderem o seu corpo. E isso afeta profundamente a forma como veem o amor, o toque, a entrega.
A autoestima — essa base tão frágil — também é um campo a vigiar. Hoje, mais do que nunca, os adolescentes vivem sob o olhar constante das redes sociais. A comparação é diária. O filtro é regra. A aprovação é medida em gostos. E a imagem tornou-se, para muitos, mais importante do que o que se sente. A insegurança cresce, o medo de não ser suficiente instala-se, e o mundo interior vai ficando para segundo plano.
Sei que tudo isto pode parecer avassalador. E é, às vezes. Porque nós, pais, também temos as nossas dores. Também estamos cansados. Também sentimos culpa. Também temos outros filhos, trabalho, contas, dúvidas, medo de errar. E sim, há dias em que fazemos o que conseguimos, não o que idealizamos.
Mas a boa notícia é que não precisamos de ser perfeitos. Precisamos, sim, de estar atentos. De não minimizar. De escutar com o coração. De fazer perguntas sem invadir. De dizer "estou aqui" mesmo quando eles dizem "não preciso". De criar um espaço seguro — mesmo quando parece que não querem entrar. E, quando sentimos que não conseguimos sozinhos, de ter a coragem de pedir ajuda.
Porque crescer é difícil. E acompanhar esse crescimento, muitas vezes, é ainda mais.
Mas não estamos sós. E nenhum adolescente deveria estar.




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