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Como comunicar com o teu adolescente?

  • 16 de jul.
  • 4 min de leitura


Fala-se tanto sobre a adolescência dos filhos. Sobre como eles mudam, sobre como se afastam, sobre como se tornam quase irreconhecíveis. Mas pouco se fala da dor dos pais nesse processo. Pouco se valida esse lado. A solidão de quem educou com tanto amor e agora se vê sem mapa, a tentar decifrar um novo idioma.

Porque comunicar com um adolescente não é só encontrar as palavras certas. É também encontrar dentro de nós o equilíbrio entre o amor incondicional e o medo de estar a perder o controlo. É aceitar que nem sempre vamos ser ouvidos — e, mesmo assim, continuar a falar. Continuar a estar.

A adolescência é, muitas vezes, um território de silêncios. E, para nós pais, esse silêncio pode doer mais do que qualquer grito. É difícil não levar para o lado pessoal. É difícil não interpretar cada porta batida como uma rejeição. Mas a verdade é que, muitas vezes, o silêncio dos adolescentes é apenas barulho interior. Eles não estão a rejeitar-nos — estão a tentar encontrar-se.

Como mãe de quatro filhos, sei bem que há dias em que parece que falamos para uma parede. Que cada tentativa de aproximação é recebida com sarcasmo, impaciência ou simplesmente indiferença. E isso desgasta. Principalmente quando lembramos o tempo em que nos procuravam com os olhos, com os braços, com o coração. Quando éramos o centro do mundo deles.

E aqui entra uma verdade dura de aceitar: comunicar com um adolescente não é uma continuação da infância — é uma reinvenção do vínculo. É aprender a estar de outra forma. Sem controlar. Sem invadir. Sem desistir.

E sim, falhamos. Muitas vezes, falhamos. Dizemos o que não queríamos dizer, reagimos quando devíamos respirar fundo. Somos humanos. E há algo que custa muito: ver que o nosso melhor, às vezes, não chega. Ou pelo menos não chega agora. Porque eles não estão prontos. Porque precisam de distância. Porque estão em construção.

Mas há um outro lado deste processo de comunicar com um adolescente que raramente se diz em voz alta: o luto. Sim, um luto. Porque educámos os nossos filhos com amor, dedicação, entrega. Acompanhámos cada passo, cada palavra nova, cada descoberta. Sabíamos ler-lhes o olhar. Construímos com eles um mundo de valores, de sonhos, de possibilidades. Víamos o melhor que existia neles. E é exatamente por isso que, quando chegam à adolescência e tudo parece desalinhar-se, a dor é imensa.

Há uma parte de nós que idealizou. Idealizámos o tipo de pessoa em que se iriam tornar. Mesmo que não quiséssemos controlar, mesmo que defendamos a liberdade e o respeito pela individualidade deles, a verdade é que criámos expectativas. E de repente, a pessoa que temos à frente já não encaixa na imagem que construímos. Isso dói. Dói ver o nosso filho fechar-se, responder mal, rejeitar tudo o que lhe tentámos transmitir com tanto amor.

E sim, nós sabemos tudo o que se deve fazer. Sabemos que não se deve julgar, que não se deve criticar, que é preciso escutar com empatia. Mas na prática, há dias em que explodimos. Em que o medo fala mais alto. Em que o desânimo nos toma. Em que gritamos, julgamos, magoamos sem querer. Porque não somos apenas pais — somos humanos. Humanos a viver o desconforto de ver alguém que amamos transformar-se diante dos nossos olhos… e não sabermos bem como acompanhá-lo nessa metamorfose.

Faz parte deste processo aceitar que o filho que idealizámos talvez não venha a existir. Mas em troca, nasce alguém novo. Alguém com as suas escolhas, as suas contradições, as suas lutas. E é preciso fazer esse luto com amor. Deixar morrer a imagem que tínhamos para abraçar, sem condições, quem eles estão a tornar-se. Só assim conseguimos voltar a comunicar — não com a criança que existia, mas com o adolescente real, presente, confuso, muitas vezes perdido… e ainda assim, profundamente digno do nosso amor.

Comunicar com um adolescente também é perceber que nem sempre é o que se diz, mas o como se diz. O tom de voz, a forma como olhamos, o corpo que escuta ou que se afasta — tudo comunica. Por vezes achamos que estamos a dialogar, quando na verdade estamos a pressionar, a invadir, a corrigir. E eles, mesmo sem saber explicar, sentem isso. Não querem sermões disfarçados de conversa. Querem sentir que estão a ser ouvidos de verdade. Mesmo quando dizem coisas que não compreendemos. Mesmo quando nos assustam com as suas certezas ou com as suas dores.

Outra coisa que aprendi com o tempo é que comunicar não é apenas falar, é também saber esperar. Saber o momento certo para abordar certos temas, respeitar o tempo deles. Às vezes insistimos em conversar no meio do caos, da birra, do conflito. E tudo piora. Há conversas que só florescem no silêncio, no sofá depois do jantar, no carro durante uma viagem curta, no regresso de um treino. Pequenos momentos onde eles se sentem menos pressionados e, por isso, mais disponíveis.

É importante também olhar para o nosso estado emocional antes de iniciarmos uma conversa. Às vezes não é o adolescente que está inacessível — somos nós que estamos exaustos, ansiosos, a precisar de colo tanto quanto eles. Comunicar exige presença, e presença exige equilíbrio. Por isso, cuidar de nós também é cuidar da relação.

Comunicar com um adolescente é, acima de tudo, um exercício de presença. De humildade. De fé. É confiar que, mesmo que agora pareça que tudo se perdeu, a raiz está lá. E que, um dia, esse filho vai lembrar-se. Vai reconhecer no meio do caos a mão que nunca deixou de estar estendida. Vai perceber que, mesmo quando tudo parecia ruído, nós estávamos ali. A amar. A escutar. A tentar.

E isso, por mais imperfeito que seja, é o que faz toda a diferença.

 
 
 

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