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Adolescência - Impacto nos Pais

  • 16 de jul.
  • 3 min de leitura

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A adolescência é, para muitos jovens, uma etapa confusa, exigente, intensa. Mas a dor dos pais também é real. É feita de ansiedades e dúvidas silenciosas. É estar no meio de uma tempestade sem manual de instruções, sem saber ao certo como agir, como impor limites, como amar sem sufocar, como corrigir sem afastar. Às vezes, sentimo-nos numa encruzilhada emocional, onde tudo o que tentámos parece ter falhado, e o coração sussurra: onde é que eu errei?

De um dia para o outro, parece levantar-se uma parede invisível entre nós e eles. Onde antes havia abraços e beijos espontâneos, surgem agora portas fechadas, olhares revirados e um desdém que nos fere em silêncio. Tudo o que dizemos é contestado, tudo o que fazemos é criticado. É como se a relação anterior tivesse desmoronado, substituída por gritos, tensões, negociações exaustivas. E no meio desse caos, muitas vezes, sentimo-nos pequenas. Culpadas. Exaustas.

Como mãe de quatro filhos, as insónias já são minhas velhas conhecidas. Mas nenhuma preparação é suficiente para o abalo emocional que a adolescência provoca – não só neles, mas em nós. E sendo da área da Inserção Social, habituada a trabalhar com jovens em contexto profissional, confesso: mesmo com conhecimento técnico, esta fase surpreende-me. Dói. Desorienta. Desafia.

Porque não se trata de saber mais ou menos. Trata-se de sermos humanas. E, às vezes, mesmo quem escuta os outros, precisa também de ser escutado. Eu própria procurei apoio. E percebi que o acompanhamento emocional é um dos maiores aliados nesta caminhada. Não é um processo rápido – nem deve ser. A estrutura interior de um adolescente precisa de tempo, paciência, validação. Precisa de escuta verdadeira, de presença sem julgamento, de adultos que não desistam mesmo quando tudo parece estar a falhar.

Foi essa vivência que me levou a especializar-me nesta área. Hoje, é com enorme satisfação que acompanho mães e filhos que se sentem desconectados, perdidos, sem bússola. Acredito no poder da escuta ativa e empática. Acredito que falar, sentir-se compreendido, ser acolhido sem críticas, pode reorganizar uma mente frágil, resgatar uma autoestima em ruínas, reconstruir uma ponte que parecia irrecuperável.

Vivemos tempos difíceis. Os perigos das novas sociedades são reais: o uso excessivo de ecrãs, a comparação constante com a irrealidade das redes sociais, a sexualização precoce, a pressão para corresponder a padrões inalcançáveis, as relações tóxicas, a ansiedade generalizada… tudo isso contribui para um cenário emocional alarmante entre os jovens.

Sair à noite já não é apenas um momento de socialização – é um risco. A preocupação com o que podem colocar numa bebida, os abusos, a vulnerabilidade das emoções mal resolvidas, a autoestima frágil... Enquanto mãe, sei bem como cada minuto de atenção é precioso. E sei também o quão difícil é equilibrar esse amor atento com a liberdade que os filhos precisam para crescer.

Não existe uma fórmula perfeita. O que existe são tentativas, ajustes, falhas e recomeços. Existe o amor que permanece mesmo quando a porta do quarto está fechada. Existe a escuta. O apoio. A coragem de pedir ajuda. E existe, sobretudo, a esperança de que esta fase, sendo difícil, pode também ser um caminho de crescimento para todos – filhos e pais.

Se estás a passar por este momento, não estás sozinha. E não há vergonha nenhuma em dizer: estou cansada, estou perdida, preciso de ajuda. Porque amar também é isto: continuar a procurar respostas, mesmo quando o caminho se faz às escuras.


Reflexão Ines Saldanha




 
 
 

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